sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Teatro gay

Sábado, à tarde.

Estávamos eu, Gato, Marília e Shanty, sentados à uma mesa de bar, no centro da cidade.

No meio da conversa, o celular de Shanty tocou.

Ele olhou o número e ignorou.

E tocou novamente.

E ele nada de atender.

Na terceira vez que estrilou, resolvi perguntar, já de saco cheio daquele barulho:

- Porra Shanty! Vai ou não vai atender esta porcaria?

- É uma guria com quem não quero mais nada, ela é doida, tá me aporrinhando a vida.

- Então desliga esta josta!

- Não posso, tô esperando outra ligação.

- Então atende, fala que tu tá numa festa gay, que assumiu e deixa o resto comigo!

E ele atendeu.

E falou, com uma voz de falsete:

- Áloouul! Ah, és tu? Seguinte, tô numa festa gay, pois resolvi assumir meu lado borboleta, querilda!

Nisso eu comecei a falar, também forçando a voz, no estereótipo perfeito da bicha alegre, bem perto do telefone dele, para que seu interlocutor ouvisse minhas palavras:

- Oool menina! Não cuidou do que era teu, perdeu! Bofe! Agora ele é meu, só meu, viu? Que moleque gostouso! Uu-ííííí!

Gato me olhou com uma cara de espanto, jamais havia me ouvido falar daquela forma.

Marília estava entre a gargalhada e o chocada.

E Shanty teve que segurar uma risada.

Antes de desligar o parelho, ele me disse, de canto:

- Ela pediu pra essa bicha louca do meu lado não falar isso, tá quase chorando...!

Eu aproveitei e arrematei mais alto e mais veado ainda:

- Uuuiii, larga este celulósico, benhê! Vem me dá um beijinho, pare de falar com esta bruaca, ela não te merece. Já disse, tu és só meu agora!

Ele desligou o celular e caiu na gargalhada.

- Porra Rattis, ela caiu direitinho, já tava quase chorando.

- É, acho que exagerei.

- Que nada, Rattis, ela merece, assim para de me torrar o saco. Valeu mesmo, Rattis!

E riu novamente, bem contente.

Confesso que eu até fiquei com pena da guria, nem sabia quem era.

Marília me olhava, Gato também.

Ambos com uma cara esquisita.

Acho que Marília estava em dúvida sobre minha sexualidade, e Gato, bem, Gato não dava pra saber o que ele estava pensando.

Mas pela cara boa coisa não era.

- Calma gente, não sou veado não. – Afirmei, com minha melhor voz de macho.

Shanty ria que se acabava:

- Rárárárá! Tu devias ser ator, Rattis, foi perfeito. Ou ator ou veado! Rárárárá!

Ator pode ser, mas veado não, catzo! – respondi.

Até eu estava impressionado com meu desempenho.

Impressionado e apreensivo, afinal, jamais tinha demonstrado ter a menor pendência para ser gay.

Ou ator.

Mas tranqüilo, eu sabia que gay eu não era.

Mas acho que a dúvida havia se instalado, tanto em Gato, como na gata.

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