sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O churrasco

Cheguei em casa.

Gato estava na janela.

Pra variar.

Chegava a dormir, de sonhar.

Roncava, babava.

Até se espreguiçava.

Não sei como não caía.

Incrível este cachorro.

Fez a maior festa, parecia que eu havia sumido por séculos.

Peguei um dinheiro, a coleira dele e abri a porta.

Praticamente, quem apertou o botão pra chamar o elevador foi ele, tantos e tão altos eram os pulos que dava.

Realmente, o animalzinho estava felicíssimo por me ver.

Ou, talvez, fosse a perspectiva de tomar uma gelada.

Cachorro esperto, este.

Esperto e bebum.

Dizem que os cães são iguais aos donos, ou o contrário.

E que, na verdade, eles é que são nossos donos, e não nós deles.

Psicologia canina.

E tem cara que se forma numa faculdade só para ficar fazendo este tipo de pesquisa e montando estas teses e teorias.

E ainda ganham prêmios, fama e dinheiro.

E eu aqui, desempregado.

Sinistro.

Mundo estranho.

Cheguei ao Portuga e, inacreditavelmente, ele não estava sozinho.

Tinha uma galera lá, bebendo, rindo, comendo uns petiscos.

Aliás, petiscos, não.

O Portuga tinha colocado uma churrasqueira, daquelas pequenas, com tampa, na calçada, e estava assando qualquer coisa.

Pelo visto, cansou de abrir o bar para as moscas.

O que era eu não sei, mas o cheiro estava ótimo.

Gato também percebeu.

O rabo parecia uma hélice, tanto que girava.

Fiquei imaginando ele chegando no balcão, voando, com o rabo funcionando como uma hélice de helicóptero.

O corpo inclinado para baixo, as patas balançando no ar, a língua de fora.

Acho que o Portuga nem iria ficar muito espantado, se isso acontecesse.

Ele já era fã incondicional de Gato.

Punha a maior fé no bichinho.

Ao nos ver, abriu um sorriso maior que o rosto.

Gato saltou, agilmente, para a primeira banqueta livre, na ponta do balcão.

Aliás, a única.

O Portuga tocou um dos clientes, dizendo que eu era da família.

Que eu tinha cadeira cativa.

Eu e Gato.

Que moral.

Nem precisamos falar nada, ele já foi buscar uma cerva, geladaça.

E meu copão e a vasilha de Gato.

Os demais clientes demoraram a perceber o que se passava, e não acreditaram quando viram Gato beber a vasilha inteira de uma só vez.

E sentado na banqueta, como se gente fosse.

O bicho estava com mais sede que eu.

Ou era crise de abstinência.

Lambeu tudo e ficou olhando pro Portuga, com aquela cara de “quero mais”.

O gajo não se fez de rogado, já foi logo servindo outra.

Avisei:

- Vai com calma aí, Portuga.

- Tás com ciúmes, é?

- Talvez sim, talvez não.

- Sei, boto fé.

E soltou uma sonora gargalhada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário