quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sobre festas e cachorros

Sobre festas e cachorros

Início de tarde.

Um sábado de outono com um calor de verão.

Tempos modernos: o tal do efeito estufa, no mínimo, estufando tudo e todos.

Sentados a uma mesa de bar, no Mercado Público, no centro histórico de Florianópolis, havia três pessoas.

Ou quase, pois a terceira “pessoa” não era bem uma pessoa, embora fosse tratada como tal.

Era um cachorro, de médio porte, pelo amarelado, raça indefinida e uma cara de satisfeito com a vida.

As pessoas eram Rattisbones e Marina. E o cachorro tinha o curioso nome de Gato.

Cada um com seu copo, exceto Gato, que tinha uma vasilha, não um copo.

E cada copo, ou vasilha, com cerveja, bem gelada.

De repente perceberam uma figura que se aproximava.

Era um amigo deles, Om Shanty, um carioca radicado em Floripa, bem doido.

Ao chegar, foi logo puxando uma cadeira e pedindo um copo pra ele também.

E resolveu contar uma aventura pela qual havia passado.

Ele tinha ido a uma formatura.

Num clube local.

Havia se preparado todo, terno, camisa nova, calça social, meias idem, a coisa toda.

Mas fora de ônibus.

E depois a pé, até o clube, um clube tradicional da ilha.

Até aí, tudo bem.

- Então, cheguei lá cedo, era a colação de grau da galera, o maior calor dentro do salão, vocês nem imaginam. – Disse ele.

- Tá, mas e aí, que aconteceu de tão bizarro? – Perguntei.

- Bom, após a colação, fomos todos para outro lugar, no continente, mas de carona. Estava rolando um jantar, oferecido por um dos formandos.

- Aham! Disse Marina...

- Posentão... Depois voltamos pro clube, isso já era quase meia-noite, e havia começado a maior chuvarada. Daí...

- Daí o que? – Eu já estava começando a ficar impaciente.

- Calma, tu vais gostar... Daí, sem mais nem menos, um sapato começou a se desfazer. Depois o outro. Apavorei-me, ia ficar descalço na festa. Arranjei um rolo de fita crepe, com um garçom.

- Vai dizer que colou os sapatos com fita crepe? Conta outra, Shanty! – Era Marina protestando, incrédula.

Eu, como conhecia meu amigo, não duvidei.

Ele continuou;

- Colei. Mas nem deu muito certo, quer dizer, por um tempo até que funcionou, embora eu estivesse ridículo.

Neste momento minha impaciência deu lugar a mais pura alegria e curiosidade.

- Daí arrebentou tudo de vez, sapato, sola, fita, tudo. Fiquei descalço só de meias.

- E? – Perguntamos eu e marina, simultaneamente.

- E passei o restante da festa de meias, pés no chão... Só que não foi só isso, não.

- Como não? Perguntou a gata.

- Bom... Depois fomos para casa de outro amigo, numa praia. Eu já estava bebaço, e o cara tem um cachorro.

- Sei... E então tu vomitaste no cachorro do cara? – Perguntei, já rindo.

- Quem me dera se tivesse sido isso.

Neste momento Gato ganiu, acho que com pena de seu igual.

- Não, nem vomitei, foi pior, muito pior.

- Como pior? Tem coisa pior que vomitar no cachorro alheio? – Disse Marina, chocada.

- O desgraçado do cachorro tarou em mim, queria me comer, o FDP! Passou a noite inteira atrás de mim, agarrando minha perna, se esfregando em mim.

Não podia nem ir ao banheiro, que o maldito bicho ficava arranhando a porta, chorando, desesperado. Se eu sentasse, ele enfiava o troço dele na minha orelha!

Caímos na gargalhada, pois apesar da cara de infeliz de nosso amigo, foi inevitável.

Imaginei a cena, o cara sentado, o cachorro tentando estuprar a orelha dele.

Chorávamos de rir, as pessoas ao redor nos olhavam com cara de espanto.

Num momento, a gata estava brigando, no outro, estávamos morrendo de rir.

Deviam pensar que éramos loucos.

Shanty nos olhava, entre inconformado e infeliz.

- Vocês riem porque não foi com vocês!

- Pô cara! Vai desculpar, mas isso é hilário.

- Sei, eu que sei, resmungou amuado.

- Pra piorar, quanto mais porrada eu dava, mais ensandecido o bicho ficava, o calhorda!

- Calma Shanty, já passou! Mas afinal, ele te comeu ou não?

- Vai sifu! Comeu porra nenhuma, tá pensando o quê?

- Nada, nada! – E caí na risada novamente.

Pra mudar o humor dele, pedi outra gelada, e retomamos o papo inicial, antes do aparecimento de Shanty, entre eu e Marina e, lógico, Gato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário