quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Abduzidos ao Quadrado – Uma história com quatro finais.



Junho, inverno, mas um calor insuportável.
Uma manhã de sol implacável.
Parecia verão.
Fim de semana atípico para a época do ano.
Acordo com o telefone berrando.
Gato já está ao lado dele, pena que não pode atender.
Atendo.
É um amigo, Lêomm.
Na real, seu nome é Leôncio, mas como assina de uma forma meio diferente, todo mundo o chama de Lêomm.
Isso porque ele juntou o símbolo indiano do Om com a inicial de seu nome, e o resultado, foneticamente, foi este: Lêomm.
Após ele, é a vez da Chita Polar, seguida pela Lisiex, depois o Panqueca, o Shanty e, pra completar a Fêmignon.
A combinação foi de nos encontrarmos na casa da Chita.
Lá estavam a dona da casa e sua prima, Salamanca.
A idéia era irmos pra uma praia.
Após o encontro, todos reunidos na casa da dita cuja, combinamos de ir para a praia do Santinho.
Cada galera num carro, ou seja, Lêomm e Salamanca no dele, Shanty e Fêmignon em outro, Panqueca, eu e Gato no fuscão, e Lisiex e Chita noutro.
Rumamos em direção ao nosso destino.
Praia vazia, como se esperava, mas, ao menos, dois butecos abertos.
Ótimo, um só já nos bastaria.
Praia é bom, mas o melhor dela é o bar.
Pé no chão, todo mundo à vontade, inclusive Gato, num espaço diferente do habitual.
Após o pedido inicial, uma rodada de cerveja, e claro, começou o bate papo.
Gato se refestelava na areia, algo bem diverso de seu ambiente natural, ou seja, o asfalto.
De repente, uma gritaria na praia.
Embora estivesse vazia, tinha o povo habitual, local.
Surfistas, pessoas ao sol, algumas nos dois bares.
Olhamos para os lados e não identificamos o porquê do berreiro.
Mas todo mundo tava olhando pro céu.
Olhamos também, Gato inclusive.
No céu, pairando acima de tudo e de todos, uma visão surreal.
Um objeto voador não identificado.
Tampouco identificável.
Shanty falou, embasbacado:
- Puta merda! Um disco voador!
Mas não era um disco.
E não era redondo.
Era quadrado.
Gato latiu, a Chita deixou cair o copo, a galera não acreditava no que estava vendo.
Nisso Lêomm saiu do torpor e comentou:
- Não é um disco, porra, é um quadrado voador!
E o quadrado lá em cima, jogando uma luz colorida na galera.
Comentei:
- Devem ser os ETs do Planeta Doce!
- Como assim, planeta doce, ô Rattis?
- Oras, do planeta dos quadrados, vai descer um báiqui cem, e nos entregar cartelas de doces, como se miçangas fossem!
- Pára de viajar, cara, isso é sério, porra! – Era Panqueca, revoltado com minha atitude de pouco caso, como se fosse normal ter um quadrado voador acima de nossas cabeças.
Da mesma forma como surgiu, o quadrado começou a emitir um som, cada vez mais alto e mais grave: ôôôôômmmmmmm!
- Porra Lêomm, tão te chamando, olha só!
Era Shanty, estupefato.
Gato latiu, incomodado pelo som.
Sem aviso prévio, um raio de luz desceu do quadrado e atingiu Shanty, que instantaneamente sumiu.
Fêmignon deu um grito, horrorizada.
- Devolve ele, seu quadrado alucinado!
Depois foi a vez de Lêomm.
Aí a galera da praia começou a correr, fugindo da possibilidade nem um pouco remota de também ser abduzida.
O próximo, por incrível que pareça, foi Gato, que sumiu sem deixar ao menos um latido.
O último fui eu.
Encontramo-nos num salão, redondo.
Estranho, deveria ser quadrado, já que o disco não era um disco, e sim um quadrado.
Só nós quatro, os abduzidos.
Nem sinal dos ocupantes do OVNI.
Mas uma musiquinha estilo indiano, tipo muzak, bem baixinha.
Estaríamos num elevador espacial?
De repente, as paredes a nossa volta se transformaram numa imensa tela de cinema, tipo aqueles ditos de 180 graus, como havia nos parques de diversões, nos anos 80.
Imagens, coloridas, com som estéreo e em 3D, surgiram a nossa volta.
Planetas, sóis, luas, outros seres, um mais bizarro que o outro.
E uma voz profunda, que recitava algo incompreensível, mas que lembrava um mantra.
E nenhum ET a vista.
Onde estariam os quadrados falantes, voadores?
Porque nos abduziram? Pra passar um filminho e recitar um mantra?
Também não apareceu nenhuma cartela de oferenda aos nativos, no caso, nós.
Mas ninguém falava nada, nem mesmo Gato latia.
Quando nos demos conta, estávamos novamente na praia, no mesmo lugar de onde saímos.
E o quadrado voador começou a girar, cada vez mais rápido, emitindo o “ÔÔÔÔMMMMM”, e se foi, de volta pra onde veio, ou sabe-se lá pra onde.
Não demorou muito, as pessoas foram se aproximando, embora ainda assustadas.
A primeira achegar foi Fêmignon, que se atirou em Shanty.
- Como você está, que foi que te fizeram?
- Em seguida chegou o restante da galera.
- E aí, que que houve?
- Como são os ETs?
- São quadrados mesmo?
- O que eles queriam?
- Calma, calma - dissemos em coro.
Gato lambia uma pata, como se nada houvesse acontecido.
Quando vimos, até repórter já tinha ao nosso lado.
Com TV e tudo.
Viramos curiosidade geral, todo mundo querendo saber o que os ETs haviam dito, o que tinha acontecido.
Uma repórter, gostosinha, chegou com um microfone e um câmera man.
- Por favor, conceda-nos a primeira entrevista!
- Sim! – respondemos novamente em coro.
Teríamos nos transformado num coral? Pois até Gato latiu em conjunto com a gente.
Entreolhamo-nos. Qual seria a pergunta, e pior, qual seria a resposta?
Afinal, os ETs sequer apareceram, e também não nos disseram nada, só o mantra e o filme.
Novamente a repórter, desta vez se dirigiu a Shanty:
- Como eles eram?
- Não sei, não vi ET nenhum!
- Mas o que eles queriam?
- Não disseram, se disseram, não compreendemos. – Foi a vez de Lêomm responder.
- Pêra lá! Pra mim disseram sim! – Disse eu.
Pronto, atenção geral no velho Rattisbones.
Continuei, porém com cara de riso:
- Seguinte. A mensagem é essa: Se todas as mulheres, gatas e gostosas deste planeta, em especial repórteres, não vierem se oferecer sexualmente para nós quatro, Gato inclusive, eles destruirão o mundo!
A guria deu um pulo pra trás, incrédula.
- Como é que é?
Nisso Shanty e Lêomm protestaram:
- Porra Rattis, pára de zuar!
- Tá bom, tá bom...tô brincando, eles de fato não disseram porra nenhuma, só ouvíamos um mantra.
- E rolou um filme, com vários planetas, outros seres, uma coisa bem doida, completou Shanty.
- E uma musiquinha de fundo, parecia flauta, algo assim, continuou Lêomm.
- Mas como eles eram? – a pobre da repórter perguntou.
- Quadrados, coloridos e adocicados.
Pronto, Shanty resolvera entrar na brincadeira, até porque, já estava de olho nas cervejas esquentando em cima da mesa.
- Lêomm riu, gargalhou.
Ninguém estava entendendo mais nada.
- Nem vimos ninguém, foi só isso, e agora, por favor, nos deixem em paz, sim? Disse eu, já de saco cheio daquilo tudo.
Após o populacho se dispersar, voltamos a nossa mesa, a cerveja já estava quente, pedimos mais uma rodada.
Que foi de graça, afinal, éramos agora figuras especiais no boteco.
Lêomm disse, para nossa galera:
- Foi estranho pra caralho, não rolou mensagem alguma, só aquele mantra e o filme.
- Acho que foi só pra nos mostrar que existe vida em outros planetas também, disse Shanty.
- E para que nós pensássemos nisso, que assim como eles, também devemos preservar e cuidar de nosso mundo, lembram aquelas imagens de mundos detonados, secos, sem vida? Talvez fosse um aviso, nada mais – disse eu.
- Pode ser, ETs ecológicos, quem sabe? – Disse Panqueca.
- Mazóra! E não lhes deram ninhum quadrado? – Perguntou Chita.
- Não, lamentavelmente nada de quadrado. – disse Shanty.
Resolvemos deixar as considerações pra outra hora, afinal, o dia continuava lindo, ninguém estava danificado, a cerveja estava ali, na nossa frente.
Mas de vez em quando um curioso parava ao nosso lado, nos olhando, como se os ETs fôssemos nós.
Ou apenas olhavam para o cachorro, sentado numa cadeira de plástico, bebendo sua cerveja numa tigela.


Final alternativo 2 – Estilo horror:

(...)
Quando nos demos conta, estávamos novamente na praia, no mesmo lugar de onde saímos.
...
Não demorou muito, as pessoas foram se aproximando, embora ainda assustadas.
A primeira a chegar foi Fêmignon, que se atirou em Shanty.
- Como você está? Que foi que te fizeram?
- Em seguida chegou o restante da galera.
- E aí, que que houve?
- Como são os ETs?
- São quadrados mesmo?
- O que eles queriam?
- Calma, calma - dissemos em coro.
Gato calmamente lambia uma de suas oito patas, como se nada houvesse acontecido.
Nisso, o quadrado começou a girar cada vez mais rápido, emitindo um OOOMMM cada vez mais alto.
Quando então, sem aviso, o quadrado começou a pulverizar a galera com um líquido colorido.
No início nada aconteceu, mas logo depois quem havia sido atingido com o borrifo espacial começou a se contorcer.
Caíram por terra, gemendo, mas o som que saía de suas bocas, nada tinha de humano.
Ao ver isso, quem estava ileso saiu correndo, mal acreditando em seus olhos.
Nisso me dei conta de que Gato estava lambendo suas 12 patas.
Mas que porra era aquela?
Desde quando cachorro tem 12 patas?
As pessoas no chão começaram a apresentar mais dois braços, pernas e até, algumas, mais de uma cabeça.
Ou era alucinação coletiva, ou todo mundo estava virando monstro.
Gato inclusive.
Curiosamente, os únicos que não estavam sofrendo nenhuma mutação éramos nós três.
As coisas, antes humanas, começaram a se deslocar em direção às outras pessoas, as que não apresentavam nenhuma alteração.
Algumas se arrastavam, ou caminhavam sobre vários braços.
Outras, que haviam desenvolvido várias pernas, essas corriam muito velozmente.
A primeira pessoa normal a ser atacada foi devorada imediatamente por uma coisa com centenas de pernas.
Quanto mais a coisa comia, mais pernas surgiam em seu corpo horrendo.
Da mesma forma como havia começado aquele horror, o quadrado voador emitiu outro som, desta vez algo parecido com um MMMMMOOOOO, e liberou outro líquido no pessoal.
Milagrosamente, as mutações foram cessando.
Ou melhor, começaram a reverter.
Em poucos minutos, quase tudo voltara ao normal.
Quase porque a centopéia humana continuou como estava.
Por causa do evento do OVNI, o local já estava cheio de policiais.
Imediatamente abateram a monstruosidade, que gritava:
- Não atirem, não atirem, sou eu, o Lula, de férias em Floripa! Estou só gastando a grana que roubei de vocês quando fui presidente por três mandatos consecutivos!
Mas não houve acordo, a PM mandou bala, praticamente decepou as pernas do monstrengo a tiros, antes de matá-lo.
E nós, nada.
Nem mutação, nem sanha antropofágica, nada, nenhum efeito colateral.
Fomo-nos aproximando da centopéia que dizia ser o ex-presidente Lula.
E, de fato, se não era ele, era um sósia.
A humanidade, afinal, nada havia perdido.
Havia algo de justiça poética nesse acontecimento.
Olhei para Gato e ele continuava lambendo uma de suas 4 patas.
Se não fosse a centopéia-Lula, poderíamos acreditar que tudo não passara de uma alucinação.
Tratamos de sair o mais discretamente possível dali, afinal, o povo poderia resolver que os culpados tínhamos sido nós...
E no céu, nem um único sinal do quadrado alucinado.



Final alternativo 3 – Estilo lisérgico:

(...)
Quando nos demos conta, estávamos novamente na praia, no mesmo lugar de onde saímos.
Não demorou muito, as pessoas foram se aproximando, embora ainda assustadas.
A primeira achegar foi Fêmignon, que se atirou em Shanty.
- Como você está? Que foi que te fizeram?
- Em seguida chegou o restante da galera.
- E aí, que que houve?
- Como são os ETs?
- São quadrados mesmo?
- O que eles queriam?
- Calma, calma - dissemos em coro.
Gato calmamente lambia uma de suas patas, como se nada houvesse acontecido.
Nisso, o quadrado começou a girar cada vez mais rápido e emitir uma luz colorida.
Todo mundo olhou assustado pro céu.
Com a luz, veio um líquido, o qual foi pulverizado em todos que ali se encontravam.
Gritos de horror, princípio de pânico generalizado.
Após aspergir o povo, o quadrado soltou um profundo OOOOMMMM, e se foi.
Exceto o banho, nada aconteceu.
Nem cheiro havia no líquido, que porra seria aquela?
Olhei para Gato, ele continuava a lamber duas de suas oito patas
Peraí! Oito patas? Como assim, oito patas?
Porra, eu também estava com seis dedos em cada mão!
Olhei em volta, todo mundo estava derretendo, ou com uma cor nada normal.
Alguns começaram a cantar, outros a rir, outros a emitir sons desconexos, como se estivessem falando, mas numa língua incompreensível.
O que seria aquilo?
Realidade ou alucinação?
Sentei em cima de minhas quatro pernas e comecei a pensar.
Será que o quadrado era realmente do mundo do Bike 100?
Seriam os quadrados astronautas?
In LSD we trusth?
Inacreditavelmente, todo mundo estava tendo as mesmas alucinações.
Se alucinações fossem.
Arrastei-me em direção à Lisiex.
Ela era uma gata, mas com quatro pernas, quatro braços e meio azulada, estava um tanto quanto bizarra.
Parecia uma deusa indiana.
Toquei nela.
Ela deu um gritinho, mais divertida que assustada.
Fui palpando-a, para sentir se o que eu estava vendo era realidade ou não.
Ela ria, gargalhava.
Mas para minha surpresa, os membros a mais eram alucinação.
Ela estava normal.
O motivo daquele riso todo era que eu estava lhe fazendo cócegas.
O mesmo sucedia na praia inteira, todo mundo vendo bicho colorido.
Até Gato parecia estar viajando.
E, da mesma forma como começou, em poucas horas tudo passou.
Fora só uma alucinação coletiva, conseqüência do líquido lisérgico que veio do espaço.
Assim que o povo se recuperou, alguns mais lentamente que os demais, a galera foi se dispersando.
Ninguém sequer lembrava mais dos abduzidos.
Tanto melhor, não queríamos falar nada, até porque Lêomm continuava viajando, assim como Chita e Salamanca.
Gato também, parecia inclusive que gargalhava, tal a expressão em sua cara.
Os que podiam dirigir, levaram os demais, e assim acabou a experiência com o fantástico quadrado voador.


Final alternativo 4 – Estilo lisérgico-erótico:

(...)
Quando nos demos conta, estávamos novamente na praia, no mesmo lugar de onde saímos.
Não demorou muito, as pessoas foram se aproximando, embora ainda assustadas.
A primeira achegar foi Fêmignon, que se atirou em Shanty.
- Como você está? Que foi que te fizeram?
- Em seguida chegou o restante da galera.
- E aí, que que houve?
- Como são os ETs?
- São quadrados mesmo?
- O que eles queriam?
- Calma, calma - dissemos em coro.
Gato calmamente lambia uma de suas patas, como se nada houvesse acontecido.
Nisso, o quadrado começou a girar cada vez mais rápido e emitir uma luz colorida.
Todo mundo olhou assustado pro céu.
Com a luz, veio um líquido, o qual foi pulverizado em todos que ali se encontravam.
Gritos de horror, princípio de pânico generalizado.
Após aspergir o povo, o quadrado soltou um profundo OOOOMMMM, e se foi.
Exceto o banho, nada aconteceu.
Ou quase nada.
Meio timidamente, as pessoas começaram a se olhar.
A se apalpar.
A se agarrar.
A se cheirar.
A se beijar.
A se lamber.
Em pouco tempo, estavam todos se agarrando, beijando, lambendo, sem discriminação.
Embora, aparentemente, sem que ninguém traísse suas convicções sexuais.
Aparentemente, porque haviam casais compostos por duas mulheres, ou dois homens, ou até trios.
As pessoas começaram se apalpando, depois, talvez instigadas por um estranho odor, bem adocicado, que saía do líquido que as banhou, começaram a se lamber, a se beijar.
Em poucos momentos, estavam todos na maior agarração.
Era uma suruba em massa.
Até Gato estava se divertindo, achou uma garota, baixinha, feia e peluda.
Copulavam na areia descaradamente.
Mas seria uma garota mesmo?
Ou era uma cachorrinha?
Porque além do efeito erótico, do tesão incontrolável, o líquido também estava causando alucinações.
Quando dei por mim, uma ruiva estava me lambendo todo.
Chita e uma loira estavam no maior amasso, Shanty e Fêmignon também, assim como os demais.
Quem não havia sido pulverizado com o líquido nos olhava com indisfarçável inveja.
Ou assim me parecia.
Infelizmente os efeitos, tanto os eróticos quanto os alucinógenos, não demoraram a passar.
E eu descobri que a ruiva era casada.
Mas o marido havia preferido ficar com um dos garçons do boteco.
Bom, quem sabe, depois disso, ela ficasse solteira?
As pessoas foram se desgrudando, saindo envergonhadas.
Algumas não, algumas estavam trocando telefones, e-mails, estabelecendo mais contato.
O marido da ruiva inclusive, mas com o garçom.
Não demorou, a praia estava vazia.
E eu nunca pude descobrir se era uma garota, baixinha, feia e peluda ou se era uma cachorrinha que Gato havia traçado na areia.
Quando me lembrei dele, já não havia mais sinal da criatura que com ele havia estado.
Se é que havia mesmo estado com algo ou alguém.
E como cachorro não fala, nem mesmo ele...










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